quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Tempos de Espera

Hoje eu quero falar sobre paciência, sobre tempos de espera. Aquele tempinho que permeia nossas vidas, tempo em que nada acontece...
Pois é, justamente, sobre este aparente nada acontece que quero falar.
Somos seres movidos por desejos cada vez maiores. Nosso ego está ávido por consumir toda a promessa de perfeição que nos é vendida na mídia.
Já referi em outro texto deste blog que queremos cada vez mais, cada vez mais coisas...
Queremos bens materiais, “estéticos”, relacionamento perfeito e, também, felicidade.
Nossa! Só de passar os olhos por esta lista de desejos que nos impomos a todo tempo, já cansa.
Agora, imaginem como toda essa exigência fica no nosso corpo, na nossa energia: cria-se uma guerra e muita ansiedade para ver esta lista concluída...
O triste fato é que os desejos contidos nela não se realizam por completo. Isso porque nosso ego está totalmente identificado com a mente, e a mente, por sua vez, com os nossos desejos.
E quanto mais desejos eu crio ou corro atrás, menos tempo há para realizá-los.
O mundo tem aderido a um ritmo muito intenso e veloz, e nós, nesta ânsia gerada por tanta velocidade, acabamos ansiosos para realizar nossos desejos.
Quando estamos entrando no tempo de espera, em que as coisas da nossa vida dão uma ‘parada’, já achamos que tudo está monótono, ou que nada está acontecendo, ou que a energia está “parada” ou ruim, enfim, tendemos a achar que nossa busca está estagnada e, por vezes, até desanimamos.
Com isso esquecemos que a natureza é o maior exemplo de que tudo tem um tempo de maturação, de parada.
Esquecemos que num momento de espera podemos dar um dos maiores presentes a nós mesmos que é cultivar momentos de diálogo interno, de reflexões que nos ajudem a crescer. É um tempo em que podemos ouvir mais música, meditar, relaxar, respirar, cuidar de nós...
Mas o que se fala muito é que “não há tempo a perder”, “estamos sempre na correria”, etc.
Criamos crenças de que não existe tempo para cuidar de nós mesmos.
Se acreditamos que não temos tempo para nós, será que este tempo existirá na nossa vida algum dia?
Será que nestes momentos de espera, a vida não nos está oportunizando um momento a sós com nossa consciência?

O médico e guru Deepak Chopra coloca que todo problema traz em si a semente da oportunidade. Logo, se eu acho que estou tendo problemas porque externamente nada está acontecendo na minha vida, será que estou aceitando a oportunidade de visitar a mim mesmo interiormente?

Quando temos de ter paciência, podemos aceitar esse tempo de espera como uma forma de entrar em contato com nosso interior para dar uma olhada na nossa construção.
Nesse sentido, novamente citando Chopra, a realidade é uma questão de interpretação.
Então, posso interpretar que não têm acontecido coisas interessantes na minha vida (externa!), e ficar sentindo tédio, ou posso aproveitar a calmaria e dar uma olhada na forma como alimento coisas boas em mim, o que tenho feito pelo meu interior...
Se interpreto de maneira positiva, transformo algo incômodo em algo produtivo para o meu amor próprio, para a minha auto-estima. No entanto se interpreto como perda de tempo, o que eu produzo com isso?

Aliás, já repararam como se fala em baixa auto-estima?
O problema é que nos sentimos em baixa quando não temos sucesso profissional, quando nosso corpo não está nos padrões da sociedade, quando interpretamos que falhamos num projeto, enfim, todas as causas externas nos incomodam quando se fala em baixa auto-estima. É difícil alguém dizer, “estou com baixa auto–estima porque notei que não tenho lidado bem com os ressentimentos que tenho dentro de mim”. Nossa tendência é olhar para fora. Nossa fonte de baixa auto-estima, normalmente, é a comparação com o outro!!!
Deveria ser diferente, deveríamos perceber que isso vem de nós, de percebermos que estamos nos tratando mal, muitas vezes, com raiva de nós mesmos por não correspondermos às exigências externas!!!

Portanto, sempre que a vida der “uma parada”, aproveite para aceitar o convite de estar mais tempo com você, desenvolvendo seu amor próprio. Assim, este tempo não será mais identificado por você como uma inutilidade, e sim, uma ótima oportunidade de tirar férias consigo mesmo!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Culpa


A culpa é um sentimento de auto-condenação, auto-reprovação que aparece quando há um juízo de certo ou errado. Nos sentimos culpados quando entendemos ter feito algo que merece reprovação, algo entendido como errado.
Antes mesmo de nascer podemos trazer conosco culpas que vão se agrupando no nosso inconsciente.
Se na fase intra uterina, por exemplo, o bebê sentir que seus pais não o desejavam, é capaz de introjetar no inconsciente um sentimento de que não era aceito, trazendo consigo ao nascer o sentimento de culpa por não ser bom o suficiente para ser amado por seus pais.
De início a criança é levada a crer que não deve sentir isso ou aquilo, mas o problema é que ela sente. Nossos sentimentos, quando ainda não compreendemos o mundo, subdividem-se em amor-ódio, prazer-dor. Assim, quando aprendemos que é errado odiar, mas que apesar disso odiamos, passamos a nos sentir culpados. Nesse contexto, o nosso padrão inconsciente a ser formado é o de que merecemos ser punidos.

Eva Pierrakos, em Não temas o Mal (Ed. Cultrix), coloca: “A culpa por odiar aqueles que mais ama convence a criança de que não é merecedora de nada que seja bom, alegre ou prazeroso. A criança sente que se ela tivesse que ser feliz um dia, o castigo, que parece inevitável, seria ainda maior. Portanto, a criança evita inconscientemente a felicidade, pensando dessa forma dar uma compensação e assim evitar uma punição ainda maior. Essa fuga da felicidade cria situações e padrões que sempre parecem destruir tudo que é mais ardentemente desejado na vida”.

Além desse aspecto, trazemos conosco grande carga do inconsciente coletivo e de nossos ancestrais do que é “certo” e ”errado”. Nesse sentido, a humanidade já delimitou o que é aprovável ou não, principalmente através da moral religiosa.

As mensagens advindas do nosso inconsciente coletivo servem para agravar este sentimento de culpa que estão em nossa psique.
O legado da era cristã, por exemplo, nos incutiu a idéia de que atos de sacrifício e sofrimento é que nos levam à felicidade e nos tornam admiráveis. Ser feliz, ter prazer, dinheiro, poder, sexo, sucesso, contrastam com a idéia de luta, privações, sofrimento, sacrifício, etc.
Nesta perspectiva, muitas pessoas não conseguem se relacionar bem com o dinheiro, por exemplo, porque consideram pecaminoso, sujo. Isso também acontece com a sexualidade, e assim por diante...

Assim, desde quando bebês já possuímos registros inconscientes, juntamente com uma mistura de emoções primitivas (INERENTES ao ser humano) que irão se chocar com os conceitos e valores de certo e errado, num processo que tem início dentro de casa, através dos ensinamentos de nossos pais e familiares e se perpetua nas escolas, e na sociedade.

Bom , a partir daí a culpa é conseqüência lógica deste processo.
Pouco se evoluiu no sentido de questionarmos todo este conteúdo incutido em nossas vidas.
Quando buscamos nos conhecer, acabamos nos perguntando de onde vem tanta culpa, e ficamos estarrecidos ao perceber quão grande é seu reflexo no corpo, na mente e na energia.
A culpa é um dos sentimentos mais arraigados e mais destrutivos do ser humano.
Mas, é importante entender suas raízes para iniciar um entendimento de que ela advém de compreensões errôneas de que sentimentos tão inerentemente humanos como raiva, ódio, rejeição, desejo, devem ser repelidos e condenados.
Entenda-se bem que não estou estimulando ninguém a alimentar tais sentimentos, coisa que também fazemos inconscientemente a todo tempo, mas admitir e assumir o que sentimos é o essencial no processo, para, então, minimizar estes sentimentos em nós.

Este aliás é um dos maiores equívocos do ser humano, quando guiado pelos aspectos culturais, principalmente quanto à moral religiosa: o de se entender como livre de sentimentos e emoções próprias do ser humano como a raiva,o ódio, ressentimento, inveja, etc.
A negação desses sentimentos que alimentam nossa culpa, faz com que reprimamos estas emoções e as coloquemos em algum lugar, preferencialmente fora de nós para que não possamos nem sequer enxergá-las. Assim, é fácil perceber nos outros estes conteúdos que não queremos enxergar em nós.

Isto acaba formando o nosso aspecto “sombrio”. A sombra, conceito formulado por Jung
[1], se forma porque não conseguimos dar sumiço nestas emoções que não queremos admitir como nossas, jogando-as num canto escuro em nós para que fiquem lá, sem serem vistas, pois na nossa busca pela perfeição não podemos mostrar para nós ou para os outros que somo tão “errados” por dentro.
É por isso que quando não nos conhecemos, colocamos a culpa no outro, porque não queremos enxergar em nós aqueles defeitos que vemos no outro.

Entender a culpa, pressupõe fazer um grande questionamento de todos os valores apreendidos até então. Bem como, ter contato com as situações geradoras de culpa para entender o nosso grau de responsabilidade num contexto mais objetivo, sem um olhar raivoso, cheio de remorso ou mesmo de auto-piedade. A partir dessa remoção dos conteúdos emocionais distorcidos, envolvidos no olhar que tínhamos a respeito do que se passou, poderemos, então, reavaliar nossa responsabilidade, entender nosso comportamento e , finalmente, nos perdoarmos.

Uma tarefa nada simples, bem trabalhosa por sinal. Mas precisamos ter claro que somente quando questionamos as estruturas do nosso pensamento e a partir do que ele é formado, temos a possibilidade de quebrar este ciclo de autopunição aceito pela nossa psique, descobrindo nossa liberdade e nosso amor por nós mesmos.

Nesse contexto, passamos a optar por um sentimento bem mais congruente e condizente com nossas atitudes, que é o da responsabilidade.
Ao fazer isso, muitos se sentirão culpados até por se questionarem, mas a persistência deve se manter, assim como se mantém na filosofia, sociologia, antropologia, enfim, em todas as áreas em que há constantes questionamentos, pois somente se cria algo novo e melhor rompendo estruturas arcaicas e que não nos servem como verdade.

Além disso, não existe uma verdade universal, existem verdades subjetivas para cada um de nós. Mais um motivo para questionarmos “verdades universais”.
Dias atrás, um grande amigo me contou uma parábola que dizia algo assim:
“Um intelectual foi procurar um mestre que vivia recluso numa caverna no inuito de conhecer a verdade, ele queria que o mestre lhe dissesse como conhecer a verdade. Questionado o mestre falou sobre cada um ter sua verdade. Não convencido, o visitante insistiu com o mestre para que ele lhe mostrasse a verdade. Então, o mestre lhe mostrou um diamante enorme, e encostou esse diamante em seu rosto e disse: A verdade é como este diamante: tem várias facetas, e aquela que lhe tocar mais, tal como esta face do diamante que lhe encosta o rosto, é a sua verdade e ela por si só lhe bastará.”

Quando encontramos nossa verdade podemos viver sem culpas, sem auto condenação e com responsabilidade, em suma, nos tornamos mais conscientes.
Para transcender nossas culpas, precisamos descobrir qual é a nossa verdade e seguirmos de acordo com ela, equilibrando o nosso auto julgamento.

Ser honestos com nossos sentimentos , aceitar que somos seres humanos passíveis de possuirmos emoções como ressentimentos, ódio, raiva, nos torna mais conscientes das emoções que são capazes de guiar nossas atitudes, nos torna mais humanos. O que, por sua vez, nos permite escolher agir com mais ponderação e equilíbrio, a ponto de não mais comprometer nossa energia com a busca pelo perfeito.

A aceitação é o caminho que liberta da culpa, dos medos, da raiva.
Aceitação de nosso ser integral, da maneira que ele é, com defeitos, com qualidades, com valores, é um prenúncio da re-descoberta do nosso amor próprio.
Enquanto continuarmos negando nossa condição humana dual também daremos continuidade aos nossos conflitos internos, deflagrando mais desentendimento do que compreensão.

Para modificarmos nossos elos de culpa e sofrimento, num primeiro momento devemos perceber nossa programação para tais sentimentos, num segundo momento aceitar que agimos assim por muito tempo sem nos recriminarmos, sem nos julgarmos por isso, reconhecendo que foi parte natural do processo. Para isso, talvez seja necessário muito diálogo interno, meditação, reflexões, mas de qualquer forma, o que importa é a predisposição para essa jornada interna.

A partir disso, podemos modificar esta programação direcionando nossos sentimentos, nossa energia para atitudes positivas, pois, assim como existe o hábito de cultivar o sofrimento, existe o hábito de cultivar a alegria, a leveza e a aceitação.
As duas correntes se desenvolvem da mesma maneira, o único problema é que, até então, criamos hábitos orientados para o lado do sofrimento.
Através do auto conhecimento, da nossa busca interna podemos optar por romper esta corrente de força negativa e iniciar a criação de uma corrente positiva.

Pode levar tempo, porque foram anos de “casamento” com o sofrimento, mas esta escolha juntamente com o cultivo do hábito de criar uma corrente positiva estão a seu alcance a todo tempo, o único porém é que talvez você nunca tenha olhado pra isso desta maneira.
Mas que é só mais uma maneira, e que pode tanto ser como não ser uma verdade. Se ela for uma das faces do diamante que lhe toca o rosto, siga com ela, do contrário continue buscando, do seu modo, a sua verdade.


[1] Para Jung, a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, o núcleo do material que foi reprimido da consciência. A Sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a Persona e contrárias aos padrões e ideais sociais.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Metas x Felicidade

Na última semana, uma reportagem[1] específica publicada na revista Mente e Cérebro despertou meu interesse ao abordar de maneira mais aprofundada um assunto que muito nos interessa: felicidade. Na capa da revista destacavam-se os seguintes dizeres “VOCE É FELIZ?”. E, em trecho ainda do título: “(...) OS QUE CONSEGUEM VIVER INTENSAMENTE O PRESENTE TÊM MAIOR CHANCE DE EXPERIMENTAR A FELICIDADE” (ou seja, a famosa sabedoria dos orientais mais uma vez sendo respaldada pela comunidade científica, hehehe, afinal esta revista específica de psicanálise, psicologia, neurociências e conhecimento tem o seu conteúdo internacional cedido pela conceituada Scientific American).
A ciência vem comprovar, somente agora, que este ensinamento de viver no presente é um dos aspectos mais pertinentes para que se alcance mais satisfação e felicidade na vida.

Por óbvio, dentro desta concepção nossos hábitos ocidentais se chocam violentamente contra este viver de forma consciente o presente, porque fomos ensinados a cumprir metas, perseguir objetivos para, então, sermos felizes, ou seja, somos programados para vivermos no amanhã.

Gostaria de destacar um trecho da reportagem que consta na Revista Mente e Cérebro que explicita esta reflexão de que perseguir metas em busca da felicidade pode trazer exatamente o oposto:

Pessoas que se preocupam demasiadamente em atingir objetivos têm menor probabilidade de ser felizes. (...) em razão da crença fortemente enraizada..., geralmente desde a infância, de que a felicidade depende do cumprimento de metas, algumas pessoas desenvolvem tendências a se concentrar de forma obsessiva no cumprimento de objetivos específicos. Com isso vivenciam ansiedade e pressões (muitas delas auto-impostas) enquanto esses objetivos não são atingidos. Essas pessoas acreditam que a felicidade será alcançada apenas em um ponto futuro.
Mas o que acontece quando, finalmente, a tarefa é concluída? Nessa etapa, prevalecem os hábitos e essas pessoas retomam o seu nível basal de felicidade. Ao se dar conta de que seu grau de felicidade não se alterou de forma permanente, concluem que a felicidade só será alcançada quando atingirem outros horizontes. Assim, as conquistas tendem a perder o valor até mesmo antes de os projetos estarem plenamente concluídos. Essa postura desencadeia uma frustração continuada diante das próprias realizações, como se estas fossem sempre insuficientes – ainda que racionalmente seja possível reconhecer seu valor
.”

É por isso que traçar metas excessivas opõe-se ao não aproveitar o presente, uma vez que só se pensa no futuro.
Muitas pessoas nem chegam a saborear algumas conquistas e já partem para novas opções, tirando o foco do que pode se tornar algo mais equilibrado, construído com paciência, e, no final das contas, mais prazeroso e satisfatório.

Traçar algumas metas e objetivos é saudável e natural para orientarmos nossa busca por realizações, porém, o problema aparece quando passamos a perseguir metas e mais metas e nem conseguimos mais aproveitar o hoje porque já estamos pensando no que temos de fazer amanhã para atingir mais e mais resultados, afora que muitas vezes o resultado não vem e o sentimento de frustração se instala.

Evidente que o mundo de hoje nos cobra rapidez ao invés de paciência, competitividade ao invés de participação, mas dentro de nossa esfera individual, o fixar-nos no presente é das poucas ferramentas de que dispomos para descobrir, perceber e nos conectar com o que está nos fazendo felizes e nos satisfazendo naquele exato momento para que possamos saborear este prazer.

Também nos ajuda a não nos contaminarmos pelas exigências impostas na mídia a todo instante de termos o corpo perfeito, o relacionamento perfeito, ou mesmo a felicidade suprema, todos mitos que permanecem sendo cultivados para que busquemos mais beleza, mais produtos, mais riqueza, em suma, mais afeto, mais “perfeição”...
Nesse contexto, a nossa exigência se torna crescente cada vez que buscamos mais e mais atingir o que se tem como perfeito ou perto disso, sem exatamente sabermos o que de fato estamos buscando.
Não paramos no presente para nos ouvirmos, para entender nossas necessidades, para nos olharmos, nos amarmos...

Existe uma inversão de valores a que fomos submetidos desde os primeiros ensinamentos que prioriza o fazer para ter, e na maioria das vezes ficamos oscilando neste binômio sem sequer pensar em SER. Exemplo desse movimento: você tem que estudar (fazer) para ter (carro, casa, sucesso, casamento, etc)

Na nossa cultura ocidental, nunca fomos ensinados a ser, mas sim a fazer para ter, e assim se torna comum esquecer-se do “ser”. Nossa maneira de olhar para o ser, infelizmente, na maioria das vezes, é através de crises, doenças, mal-estar, etc, e é aí que paramos para nos olhar, tentar buscar em nós onde está a raiz do problema, isso na melhor das hipóteses, porque há os que nem sequer olham pra si, permanecem culpando a vida, Deus, o marido, a esposa, os pais, enfim, o problema está no outro.
Se antes de qualquer movimento procurássemos nos ouvir com cuidado e carinho, com certeza nossas escolhas seriam pautadas por maior equilíbrio e respeito por nós mesmos, e, então, o nosso sucesso seria conseqüência disso, de estarmos satisfeitos e felizes naquele momento.
Mas o nosso movimento é sempre no sentido do “tenho que fazer para ter isso ou aquilo”, e nessa busca desenfreada do ter esquecemos totalmente da construção do “quem somos” (digo construção para não acharem que se “saber quem é” também é algo pronto e enlatado como um produto).

Para se sentir no presente, o ser humano precisa retornar à sua origem e experimentar sua essência. E não há fórmulas mágicas! Existem alternativas, tais como autoconhecimento, meditação, ou seja, demanda tempo e empenho.
Vivemos no mundo das fórmulas rápidas para buscar o sucesso e as realizações pessoais, no entanto, fazer um movimento interno em busca de amor próprio implica ter paciência, cuidado, nutrição do corpo e do espírito, cultivo da consciência do presente, perseverança, tudo o que contrasta com a busca frenética do prazer constante, mas vazio.

Estar consigo mesmo agora! Eis o desafio. SER, simplesmente, SER.

E não estou falando de se enfiar numa caverna ou viver recluso! Trabalhe, almeje, busque, mas faça isso com equilíbrio e consciência, permitindo-se estar presente nas suas atividades, permitindo-se desfrutar de suas conquistas (do contrário, mal se aproveita uma e já se busca outra, e o movimento infeliz começa).

Tomar a estrada que nos leva de volta a nós mesmos, ou à nossa essência, alma, ser superior, enfim, como queiram chamá-la, é a única busca constante que nos traz cada vez mais porções maiores de felicidade, porque vem da re-descoberta de um amor puído e embotado por milênios de crenças no sofrimento e na repressão dos sentimentos.

Enfim, parafraseando o final da reportagem (que acaba confirmando a sabedoria leiga) “felicidade não é um destino final, mas a apreciação da viagem”; eu só acrescentaria que esta viagem é a viagem de volta a nós mesmos e ao nosso amor próprio.

[1] WIEDERMAN, Michael. Você é feliz?. Mente e Cérebro.São Paulo, nº 174, p. 35-41, julho de 2007.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Os benefícios das técnicas de Bioenergética e de Reprogramação Mental no processo terapêutico


De acordo com Lowen[1], a Bioenergética é uma maneira de entender a personalidade em termos de corpo e de seus processos energéticos. Nesse sentido, a quantidade de energia que uma pessoa tem e como a usa determinam o modo como responde a situações da vida. Deste modo, uma pessoa pode enfrentá-las de forma eficiente, se tiver mais energia passível de ser livremente traduzida em movimento e expressão.

A Bioenergética é também uma forma de terapia que combina o trabalho com o corpo e com a mente para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas emocionais e melhor perceberem o seu potencial para o prazer e para a alegria de viver.
A tese fundamental da bioenergética é que corpo e mente são funcionalmente idênticos, isto é, o que ocorre na mente reflete o que está acontecendo no corpo, e vice-versa.

Neste sentido subsiste uma relação entre três elementos: corpo, mente e processos energéticos, representando uma interação contínua e indissociável.

No entanto, esta interação entre mente-corpo-energia só é percebida de maneira superficial pelo nosso consciente, o que por sua vez, limita a nossa percepção de emoções e vivências (nossas experiências da infância, fase intra-uterina, da adolescência, etc) que restaram gravadas no inconsciente e em determinadas partes do corpo, sob forma de distúrbios energéticos.

Tais bloqueios, para que sejam superados, devem ser trazidos à tona do inconsciente para que possamos compreender melhor o funcionamento das nossas emoções, pois na medida em que tornamos os conteúdos conflitivos inconscientes conscientes, temos uma nova possibilidade de determinar novos condicionamentos positivos.

Nesse contexto, o processo terapêutico tem por objetivo auxiliar o indivíduo a perceber seus padrões inconscientes e problemas emocionais representados nestes bloqueios corporais, estabelecendo maior compreensão do funcionamento de seu inconsciente permitindo que se quebrem os antigos condicionamentos causadores de sofrimento.

Em função desta ruptura de padrões de comportamento, é possível auxiliar o indivíduo a superar seus conflitos para que possa adquirir uma nova postura diante da vida, direcionando sua programação mental de maneira positiva e saudável.

Aparentemente o processo parece simples e rápido, no entanto, temos que compreender que existem condicionamentos que durante uma vida inteira não foram questionados ou “mexidos”, e que ao serem identificados encontrarão grande resistência do ego para serem trabalhados.

Entretanto, na medida em que a pessoa consegue identificar o que antes lhe causava sofrimento e passe a substituir este padrão negativo por um direcionamento positivo, haverá uma significativa mudança de comportamento, contribuindo para que cultive dentro de si uma compreensão de seu ser e para que viva de maneira mais harmônica e equilibrada.

[1] LOWEN, Alexander e LOWEN, Leslie. Exercícios de Bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. 8ª ed. São Paulo: Agora, 1985.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Algumas considerações sobre a terapia holística

A palavra holística vem do grego “holos” e significa “ completo”. Tendo em vista esta definição, a terapia holística tem como enfoque o ser em sua totalidade, ou seja, são objetos de tratamento no processo terapêutico o aspecto físico, o energético e o psíquico.

No contexto da terapia holística, a doença manifestada no físico é compreendida como um reflexo ou somatização de aspectos emocionais e energéticos em desequilíbrio.

Por isso, o tratamento holístico busca, além de tratar as manifestações físicas - sob a forma de dores, tensões, doenças, etc. -, detectar a origem destas desarmonias. Uma vez identificada a causa do desequilíbrio, tem início o tratamento para minimizar ou cessar a produção de efeitos maléficos nos níveis corporal, energético e emocional, restabelecendo-se o equilíbrio integral da pessoa.

O aspecto físico compreende todo o corpo humano, órgãos e sistemas.

O aspecto energético compreende os centros vitais de energia, chamados Chakras, e todos os demais canais energéticos do corpo (nadis) por onde circula a energia vital, também chamada pelos hindus de Prana, pelos chineses de Chi (ou Ki) e por Wilhelm Reich (criador da Bioenergética) de Orgone.

Nos canais e centros energéticos se localizam os distúrbios energéticos que guardam correspondência com as patologias físicas e conflitos emocionais.

Na psique encontram-se todas as nossas emoções, caráter[1] e atitudes. As nossas emoções, tais como medos, angústias, preocupações, ansiedades, frustrações, tristezas, etc., quando não compreendidas e não tratadas, tornam-se fontes geradoras de patologias e conflitos energéticos que acabam se manifestando na nossa estrutura corporal.

No momento em que não sabemos proceder quando uma determinada emoção emerge, seja raiva, dor, medo, etc., e não entendemos ou não aceitamos sua manifestação, passamos a tentar racionalizar o que se passou, e criamos formas distorcidas de entendimento, produzindo assim uma modificação no funcionamento de todos os nossos sistemas, resultando em dor, tensão, mal estar físico e doença.

Dentro deste enfoque, é importante compreender que estas emoções são naturais a todos os seres humanos e que precisam ser entendidas e aceitas como parte integrante da nossa personalidade, de forma que possamos conviver com elas de maneira saudável.

Negá-las ou ignorá-las é fonte de mais sofrimento porque elas ficam reprimidas no nosso inconsciente, gerando mais efeitos negativos do que se, simplesmente, as tivéssemos externado e aceitado. E quando digo externar, não quero dizer para ser direcionada para as outras pessoas, é externar para nós mesmos, para que possamos ser honestos com nossos sentimentos, pois, uma vez que tomamos consciência deles, saberemos entendê-los e aceitá-los, direcionando sua energia para a cura e para a transformação.

Nesse sentido, a terapia holística tem como objetivo auxiliar o indivíduo a alcançar uma compreensão maior de si mesmo, equilibrando os conteúdos em desequilíbrio para se viver com mais saúde e vitalidade. No enfoque holístico o corpo é capaz de revelar muito mais sobre nossas dores e emoções do que a nossa fala, que tenta transmitir o entendimento distorcido que temos de nós mesmos.

Portanto, ao tratarmos em conjunto os aspectos físicos, energéticos e mentais, temos como resultado um processo de cura mais completo e eficaz, auxiliando a pessoa a remover e eliminar antigos padrões de conduta negativos, atitudes destrutivas e bloqueios emocionais. A partir disso, podemos também auxiliar a pessoa a reprogramar sua mente de maneira positiva e equilibrada, criando condicionamentos positivos e saudáveis.

[1] De acordo com Reich, o caráter é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações. Inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento (timidez, agressividade e assim por diante) e atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo). http://www.psiqweb.med.br/persona/reich.html